Como chegamos onde chegamos? Quando a inversão de valores começou a desconstruir a linguagem? E ainda mais importante… Quando o seu esforço individual passou a ser desmerecido em função do benefício coletivo da mediocridade?
A clara transformação nas últimas décadas daquilo que é pujante na sociedade desde o próprio entendimento da mesma, o mérito. O mesmo dá-se por esforço, capacidade e competência, mas estamos num momento onde uma visão distorcida do humanismo tem se tornado um lugar comum. Fomos semeados durante décadas com contrapontos do mérito e hoje somos cerceados por ele com a construção do que se chama “politicamente correto”. E esse novo olhar aparentemente polido, sofisticado e cuidadoso tem uma única intenção basilar, subverter a sua liberdade.
O “politicamente correto” vem substituir aquilo que conhecemos como bom senso e boas maneiras, mas com aditivos de censura e autocensura coletivistas. Tudo que toca a linguagem que em algum momento poderia caracterizar um mau hábito, falta de informação, má educação, preconceito social, de gênero ou raça, estão todos eles embutidos, mas com uma embalagem bem cuidada. Por fim o “politicamente correto” transforma sua individualidade numa quimera que deve ser combatida e quiçá destruída em prol de um “bem maior”.
E onde fica o mérito nisso? Ali! Bem no meio! A artimanha, mascarada de cuidado, é tirar o poder da individualidade e desmerecer o mérito, pois de que adiantaria ser o mais esforçado, apto e competente se todos serão nivelados pelo medíocre. Se a dificuldade para trazer o brilho do mérito de alguns à tona já era grande, imaginem no meio de tanta burocracia social. E aqui está o gancho do que significa essa distorção, ela não acontece numa só frente. Ela ocorre em todos os âmbitos que tocam a sociedade, desde a formação escolar mais básica, estendendo-se às mídias e finalmente na política, que é onde o “politicamente correto” estabelece suas reais bases, e termina por ter suporte e garantia.
A sociedade se autorregula e adicionou ferramentas para facilitar esse controle. Não acreditem que a bondade humana é o que nos distancia do caos, isso se dá pelo medo. E as leis e instituições que garantem a segurança dessa mesma sociedade utilizam a mesma ferramenta. Aquilo que antes era feito pelo próprio cidadão, que garantia a sua segurança e a dos seus na antiguidade, hoje foi terceirizada e quando você transfere uma responsabilidade, antes sua, para outros, você perde a habilidade de fazê-lo e passa a acreditar que o que vier dali é para o seu cuidado e bem estar. Então vamos a isso.
As leis de um país não existem somente para garantir sua segurança e punir aqueles que a infringirem, elas também estão aí para garantir seus direitos e aqui está a base da desconstrução final.
Anteriormente a sociedade moldava as definições de direitos dos seus cidadãos, mas na terceirização de responsabilidades, essa construção se inverteu e se perverteu. Fica mais fácil entender o processo quando você conecta as linhas que realizaram e realizam esses processos. Falando de algo que não deve ser mais falado e tocando no que não deve ser mais tocado.
Tratamos nossa existência dentro de um prisma e perspectiva bem reduzidos, e já há algum tempo, ainda menor. Quantos jovens olham para o passado e tentam entender o porquê de estarem onde estão? Quantos olham para sociedade e tentam entende-la?
É nessa condição urgente que estamos. Hoje a maioria vive esse imediatismo e essa velocidade não se adequa ao funcionamento da própria sociedade, nem do ser humano.
O Brasil não tem uma história tão longa no sentido da liberdade como a concebemos hoje, cerceado por dezenas de milhares de leis que tentam realizar o papel de reguladores dessa mesma sociedade. Mas como chegamos a isso e por que ressaltar a liberdade como necessidade imprescindível?
Em 1824 foi outorgada a primeira Constituição Brasileira ainda no regime monárquico, baseando-se nas constituições espanhola e francesa, ainda sobre a sombra do iluminismo que tantos ainda querem resgatar. A referência ao lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” são ainda hoje de conhecimento popular. E no iluminismo francês estão as bases do que mais a frente seriam estruturados por Marx, Trotsky e tantos outros, como a base para o comunismo, o socialismo e o progressismo.
No contraponto histórico, a Constituição de 1824 é, em muitas frentes, muito mais avançada que a atual. Mas avancemos um pouco na história para alinhar o iluminismo francês, o comunismo e a nossa atual democracia. A Constituição de 1988 resgata em muitas de suas passagens as bases do iluminismo francês; em paralelo surge um movimento popular proletário com todo o embasamento do comunismo do século 20, que se tornaram com todos os seus fraturamentos e dissidências, nos partidos de esquerda que vemos na atualidade. E aqui estão as bases dos problemas que vivemos hoje.
Com diversos buracos intencionais, a constituição de 1988, cria o suporte para aquilo que conhecemos hoje como ativismo. Entidades trabalhistas, seguindo as prerrogativas do comunismo aviltaram-se por estabelecer a separação entre patrões e empregados, que logo se estenderia à sociedade com entidades se organizando no sentido de continuar a agenda do separatismo social. Entendam que muitas das demandas sociais inicialmente levantadas como bandeiras pela maioria dessas organizações são muito válidas, mas nunca foram o motivo base ou a intenção. Lembrando que as leis são a base para o direito exercer a sua função e que dentre todos os outros ativismos, não há nada mais perigoso que o ativismo jurídico.
O que vemos é a utilização da “Janela de Overton” na restruturação da sociedade. Apresento algo em que todos estão em comum acordo, para a seguir apresentar uma demanda menos palatável, que logo passa a sê-lo, para uma próxima que de início se imagina imponderável, mas que pela repetição, insistência e adaptação também será implantada. Outra coisa que fica cada vez mais evidente para maioria é que todas essas instituições e entidades não respondem pela maioria da sociedade e focam nas minorias, trazendo uma visibilidade a essas como se maioria fossem.

Isso ocorreu e continua ocorrendo praticamente para tudo dentro de nossa sociedade, e não só mais na nossa, diversos países estão em condições semelhantes ou piores. Basta relacionar as novas agendas e novidades instaladas social e politicamente. Não seguindo uma ordem cronológica, vamos as mais conhecidas: negros, índios, pobres, seca, gênero, aborto, mulheres, crianças, jovens… Essas já cobrem boa parte das demandas com a intenção de gerar ou, em si mesmas, representam o separatismo social. Existe um ponto comum no levante das “minorias”, o vitimismo. E há algo que nunca ou excepcionalmente é abordado, algumas minorias não o são mais, mas mantem-se em tal posição em função dos benefícios adquiridos.
E por que vir tão longe e reunir tantos pontos? Quando a intenção é a de atentar a meritocracia e a desconstrução da linguagem? Porque sem esse suporte contextualizado e que transcende o imediatismo dos dias ou meses, e reporta a eras, não se consegue visualizar o POR QUÊ.
A existência de um olhar contrário ao mérito já parece um absurdo, mas o suporte daquilo que desconstrói o mérito é ainda mais pernicioso e colhe seus frutos na base original da receita comunista da luta entre patrão e proletário. Quem diria?
A intenção base do comunismo é destruir o sistema estabelecido e colocar-se como escolha natural para salvação, mas seus interesses são maiores e a demagogia do seu discurso precisa de respaldo na anarquia e desestruturação que eles mesmos promovem. Estamos frente a isso, com outras bandeiras mais suaves, menos pragmáticas e mais assertivas.
Qual o destino de uma sociedade com uma demanda coletivista tal que o indivíduo agora responde ao coletivo primeiro antes de fazê-lo a si mesmo? É exatamente esse o momento que estamos vivendo! E é por isso, que para aqueles mais alheios a política e história, parece tão natural essa normalização dos separatismos e àqueles que são mais conservadores quanto a visão da sociedade, com a família no seu núcleo, como base para um Estado forte, não convergem.
A desconstrução do valor do mérito cria profissionais e cidadãos medíocres que serão responsáveis por uma sociedade medíocre, que logo não saberá a diferença entre certo e errado, porque isso nem vai mais existir. E relativizando a própria realidade em benefício próprio, também o farão com a sua língua, e a desmantelarão. Tudo para garantir o acesso do medíocre ao mérito, ao invés de forçá-lo a um nível superior espiritual e intelectualmente, baixa-se o nível para todos, para se adequar àqueles que lá não chegariam. Esse é um movimento, entre tantos.
Apesar de continuarem não falando e pedindo incessantemente para que não mais olhem para realidade e que também não atentem mais aos fatos, ainda existem muitos que se recusam a entregar seu critério e bom senso a um serviço terceirizado. Graças a esses tantos, ainda manteremos o mérito e a língua como devem ser.
Escrito por Adriano Paiva.